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Experiências de quase morte provam a existência de um outro plano?

Na visão de Colton Burpo, anjos cantavam para Jesus (Foto: William-Adolphe   Bouguerenau (1881))

Em 1876, o padre católico francês Louis-Gaston de Ségur publicou um pequeno livro chamado “O Inferno: se existe, o que é, como evitá-lo”. Na primeira parte da obra, que busca estabelecer a realidade do tormento eterno, De Ségur relata uma série casos, reais e “de fonte segura”, de pessoas que voltaram das chamas infernais para dar depoimento.
O Monsenhor de Ségur foi um best-seller em sua época, e seu opúsculo sobre o inferno ainda pode ser encontrado hoje (há uma edição brasileira da Editora Ecclesiae), mas os gostos mudaram: atualmente, fazem muito mais sucesso os livros com supostas “provas” da existência do paraíso. Consolo sai melhor que castigo.

Duas obras sobre a realidade do céu causaram estardalhaço nos últimos tempos. Ambas, depoimentos de gente que teria visitado o paraíso e voltado para contar a história. Uma delas, a autobiografia “Uma Prova do Céu”, virou um caso de vergonha alheia depois que seu autor, o neurologista Eben Alexander III, foi exposto numa reportagem da revista Esquire, que revelou que muitos pontos cruciais do relato eram pura lorota.
O outro livro é “O Céu é de Verdade”, de Todd Burpo e Lynn Vincent, que deu origem a um filme com Greg Kinnear (da série de TV CSI: New York) no papel de Todd, pai de Colton Burpo, um garoto que teria visitado o paraíso – encontrando, entre outras figuras, uma irmã que não chegara a nascer, o avô morto, Jesus e o cavalo de Jesus, colorido como o arco-íris. As visões tiveram lugar enquanto Colton estava sedado, durante uma cirurgia, aos quatro anos de idade.

Veja o trailer:



Ignorando a hipótese de que Colton tenha mentido deliberadamente para impressionar o pai, que é pastor evangélico, restam as explicações de sonho, alucinação, fantasia infantil – cavalo arco-íris? – ou de que o menino tenha, realmente, visitado o céu. Mas qual o peso que se deve dar a cada possibilidade?
De um lado, sabemos que memórias infantis são maleáveis e manipuláveis. Além disso, crianças são altamente sugestionáveis. Um exemplo dramático foi o caso do Pânico Satanista do início dos anos 80, quando boa parte da sociedade americana passou a acreditar que crianças eram molestadas em rituais de magia negra. Em alguns casos, crianças simplesmente inventaram histórias escabrosas para agradar aos investigadores – intuindo que eles queriam ouvir, deixando-se conduzir pelas perguntas carregadas de insinuações.

Como diz um relatório do FBI sobre o caso: "Só porque a criança não está mentindo, isso não significa necessariamente que esteja contando a verdade (...) na maioria dos casos, a vítima não está mentindo. Está relatando o que acredita ter acontecido".
De outro, temos a palavra do pai, Todd, de que o menino trouxe do “céu” informações a que jamais tivera acesso aqui na Terra – como o fato de que a mãe havia perdido uma filha ainda durante a gravidez. Só que crianças são muito atentas a tudo o que os adultos dizem e fazem. Quem garante que o menino nunca ouviu o assunto ser mencionado, talvez quando os pais achavam que ele não estava por perto? No fim, essa “prova do céu”, assim como as “provas do inferno” do Monsenhor de Ségur, só convence quem já não precisa de prova nenhuma.

Fonte: Galileu