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Como a vida floresceu após a morte dos dinossauros?

Os primeiros mamíferos como essa espécie do tamanho de um rato, Liaoconodon hui, coexistiram com dinossauros de penas como Sinotyrannus nos ecossistemas temperados do Cretáceo no que é hoje Liaoning no norte da China. Ilustração de Davide Bonadonna

Há 66 milhões de anos atrás, um asteroide atingiu a Terra e destruiu 75% das espécies vivas, dinossauros, mamíferos, plantas e outras espécies.
Neste período, uma porcentagem ainda maior dos grandes animais foram extintos, os mais conhecidos são os dinossauros, que reinavam a Terra.

Mas como a vida floresceu após este período apocalíptico? É esta a resposta que os paleontólogos Ian Miller e Tyler Lyson do Denver Museum of Nature and Science buscam apresentar.

Num estudo publicado na Revista Science os paleontólogos apresentaram uma interessante cronologia detalhada com base em diversos fósseis encontrados em camadas rochosas em Corral Bluffs, Denver, Colorado, a cerca de 100 km de onde trabalham, contendo um acervo considerável de plantas e animais que conseguem dar uma nova luz a história que sucede a extinção dos dinossauros.

Crânios de mamíferos fossilizados encontrados na região de Corral Bluffs

Na análise destes fósseis, que estão muito bem preservados e apresentam um registro completo da vida antiga e do meio ambiente, foi possível verificar que plantas e animais voltaram muito mais rápido do que se pensava, com plantas incentivando os mamíferos a se diversificarem.

Miller, um paleobotânico, e seus colegas coletaram 37.000 grãos de pólen e esporos, o que revelou um claro marcador do impacto do asteroide: um aumento no crescimento de samambaias, que prosperam em ambientes perturbados. O local também inclui duas camadas de cinzas de vulcões próximos. As cinzas vulcânicas incluem minerais radioativos cujo decaimento pode ser usado como um relógio geocronológico preciso, fornecendo dois marcadores de tempo. As oscilações conhecidas nos pólos magnéticos da Terra, registradas por alguns minerais nas camadas, acrescentam detalhes à cronologia.

O registro confirma a devastação causada pelo impacto. As espécies de mamíferos do tamanho de guaxinim haviam invadido o local antes da catástrofe, mas, 1.000 anos depois, apenas algumas criaturas peludas, com tamanho não superior a 600 gramas, percorriam um mundo cheio de samambaias, onde as plantas com flores e sementes nutritivas eram escassas.

Algumas plantas fossilizadas encontradas na região de Corral Bluffs

Nos 100.000 anos que se seguiram, duas vezes mais espécies de mamíferos vagavam, e eles estavam de volta ao tamanho do guaxinim. Essas criaturas procuravam nas florestas de palmeiras que substituíram as samambaias. "É um mundo que volta da devastação completa e absoluta", diz Miller.

Nos 200.000 anos seguintes, o que ele chama de "período das palmeiras" deu lugar ao período "torta de nozes", quando surgiram plantas semelhantes às nozes. Novos mamíferos evoluíram para aproveitar as sementes nutritivas. A diversidade de mamíferos aumentou três vezes, e a maior das novas espécies atingiu 25 kg, o tamanho de um castor.

Após cerca de 700.000 anos, as leguminosas apareceram; suas vagens de ervilha fóssil são as mais antigas descobertas da América do Norte até hoje. As espécies de ervilha e feijão do "período de barra de proteínas" forneceram refeições ricas em proteínas que aumentaram ainda mais o tamanho e a diversidade dos mamíferos, diz Lyson. Os mamíferos atingiram 50 kg, um aumento de 100 vezes sobre os que sobreviveram ao asteroide. As florestas também haviam se recuperado.

A equipe também classificou 6.000 folhas, contando quantas espécies em cada intervalo de tempo tinham bordas lisas ou dentadas. As espécies de bordas lisas são mais comuns em climas quentes. A equipe concluiu que o local passou por três períodos de aquecimento. Eles estimam que o primeiro, logo após o impacto, viu as temperaturas subirem cerca de 5° C, concordando com o trabalho anterior. Este período coincide com as enormes erupções vulcânicas da cadeia Deccan na Índia, que poderiam ter aquecido a Terra ao espalhar uma quantidade considerável dióxido de carbono no ar. 

O registro também contém uma mensagem preocupante sobre o futuro e a rapidez com que os ecossistemas podem se recuperar de extinções em andamento. Mesmo uma recuperação que os geólogos chamam de "rápida" levou centenas de milhares de anos, e o mundo nunca foi o mesmo.