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Pesquisadores descobrem na África 'mão moderna' mais antiga do mundo

Osso da mão moderna encontrado na África visto em quatro ângulos diferentes: risco branco corresponde a 1 cm

Uma equipe de cientistas internacionais descobriu na África fósseis de ossos da mão moderna - como a nossa - mais antiga da qual se tem conhecimento, datada de mais de 1,84 milhão de anos.

A evolução das mãos é de vital importância para entender como nos transformamos em humanos. Os fósseis foram achados na Garganta de Olduvai, na Tanzânia, e pertencem a uma falange do dedo mínimo da mão esquerda de um indivíduo que mediu entre 1,70 e 1,80 metros.
"Por ser uma mão moderna, significa que pertenceu a um indivíduo exclusivamente terrestre, que não utilizava suas mãos para subir em árvores", explicou à Agência EFE Manuel Domínguez-Rodrigo, do Instituto de Evolução da África e diretor desta pesquisa, publicada na revista "Nature Communications".


Ilustração de mão mostra onde fóssil se 'encaixa' na mão moderna

Os hominídeos se tornaram bípedes há cerca de 6 milhões de anos. Durante os primeiros 4 milhões, todos os hominídeos se caracterizavam por um padrão misto: trepavam em árvores e eram bípedes no solo, daí as mãos tinham dupla função - a manipulação e a locomoção em árvores. Quando as mãos se libertaram da locomoção arbórea, sua fisionomia mudou para adaptar-se e poder se transformar em "estritas especialistas em manipulação", indicou Domínguez-Rodrigo.

"Nossa mão evoluiu, tornando possível uma grande variedade de agarres e a suficiente força de pressão para permitir uma ampla gama de manipulações. É precisamente esta capacidade de manipulação que interagiu com o cérebro para o desenvolvimento de nossa inteligência através da invenção e do uso de ferramentas", disse.
E nossa mão mudou. Os polegares se modificaram, os dedos se alargaram e as falanges se endireitaram.

Local onde fóssil foi encontrado, na Garganta de Olduvai, na Tanzânia

As falanges, por exemplo, só se desenvolveram quando abandonamos a vida arbórea. Até este trabalho, os pesquisadores acreditavam que isso tinha ocorrido há 1,5 milhão de anos e que teve como protagonista o Homo erectus. No entanto, este novo estudo estabelece que as mãos com características "modernas" têm uma antiguidade de, pelo menos, 1,84 milhão de anos.

"Nossa descoberta não demonstra apenas que há 1,84 milhão de anos já existia uma criatura com uma mão de características modernas, mas também que esta criatura era de maior tamanho que nenhum outro hominídeo anterior ou contemporâneo a essa espécie. Não temos certeza a que espécie pertencia o indivíduo, porque nos encontramos os dentes. É arriscado dizer", esclareceu Domínguez-Rodrigo, que acrescentou que eles sabem que a mão não pertenceu a um indivíduo da espécie Homo habilis nem da Paranthropus boisei.

Segundo este trabalho, as características do novo indivíduo se encaixam "muito bem" com as do Homo erectus que coexistiu na África com as outras duas espécies.
Até agora, os fósseis de Homo erectus identificados na África datavam de 1,5 milhão de anos. Estes novos são quase 400 mil anos mais antigos, contudo o estudo não descarta que possa ser uma criatura que ainda não é conhecida, mas que é muito parecida ao Homo erectus.

Nos últimos anos, os pesquisadores reuniram evidências que levaram a entender que a jazida de Olduvai era um lugar central onde os hominídeos transportavam carcaças de até 350 quilos que obtinham mediante a caça, mas Domínguez-Rodrigo sempre duvidou que o Homo habilis fosse capaz de fazê-lo, por medir um metro. Este trabalho encontrou uma explicação a isto: a jazida era habitada por uma criatura maior e de aspecto muito mais moderno.