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Arqueólogos da Ufam retiram urna funerária de dois mil anos

Uma equipe de arqueólogos da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) retirou uma urna funerária pré-colombiana encontrada no início deste mês em um terreno particular do conjunto Atílio Andreazza, bairro Japiim, zona Sul de Manaus.
 

Enquanto esvava para fazer fossa, Marivaldo Oliveira localizou urna indígena

Foi na manhã de 1º de dezembro que a ossada com vestígios indígenas foi encontrada em uma casa localizada na rua Ariaú. Junto com os ossos, foi encontrada uma espécie de urna cerâmica; o local é conhecido pelos moradores como ‘antigo cemitério indígena’; descoberta acontreceu durante construção de uma fossa sanitária. A retirada do material ocorreu na quarta-feira (12).

A exumação da urna foi feita por quatro arqueólogos e durou cerca de nove horas. Logo em seguida, foi levada para o laboratório de Arqueologia da Ufam, onde passará por trabalhos de remontagem de uma delas.

O artefato encontrado é composto por dois objetos sobrepostos. Segundo o arqueólogo Carlos Augusto Silva, era deste modo que as populações nativas que moravam em Manaus antes da chegada do colonizador europeu enterravam seus mortos. Silva contou que a urna externa está mais danificada, mas será remontada. A urna interna continua preservada.

O sítio arqueológico do conjunto Atílio Andreazza é um dos inúmeros existentes em Manaus. Ele está na categoria de “sítio-cemitério” porque aquele local, muitos séculos atrás, foi utilizado para enterrar os mortos em rituais que incluíam a calcinação dos ossos - daí o fato destes órgãos ficarem sempre fragmentados.
 
Cemitério indígena
Os vestígios foram encontrados pelo pedreiro Marivaldo Oliveira, de 29 anos, quando ele preparava o terreno para a construção de uma fossa. “Quando meti a picareta, quebrei o balde”, disse. O pedreiro informou que não sabia do que se tratava e, por isso, continuou cavando com a mão até descobrir que o objeto parecia uma urna. “Tô acostumado a cavar, mas nunca vi aquilo. Pensei que era um pote de ouro, mas encontrei um pote de osso”, brincou Marivaldo.

O proprietário da casa, Ronaldo Fros, 44, acionou a 3ª Companhia Interativa Comunitária (Cicom). De acordo com o soldado Rui Nélio, que atendeu a ocorrência, a equipe fazia o patrulhamento no local quando foram descolados para atender ao chamado. “Nos deparamos com ossos humanos com características de antigos povos indígenas”, informou. O policial acionou a perícia do Instituto Médico Legal (IML).

O proprietário da casa informou que, logo que viu o objeto cerâmico, associou à história de que o Conjunto foi construído sobre um cemitério indígena. “Há essa história de que aqui é um cemitério indígena”, disse, referindo-se a uma antiga história que circula entre os moradores da área. Pesquisadores da Ufam já estiveram anteriormente checando a região, quando afirmaram se tratar de um antigo cemitério indígena.

Ele destacou que já encontraram vestígios em outras áreas do conjunto e que, na época, os pesquisadores informaram que a ossada teria cerca de 200 anos. “Se aquela estava em melhor estado e tinha 200 anos, imagina essa que já está se desfazendo”, disse.

Segundo Rui Ferreira, um terreno próximo à casa onde foi encontrada a ossada neste sábado, é repleto de marcas que se assemelham a vestígios indígenas, conforme informaram estudiosos da Ufam.
 

O local atual em análise tem outras urnas funerárias, mas é possível ver apenas a sua circunferência
 
O achado da urna funerária esteve às voltas de uma polêmica. É que, segundo informações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), os restos mortais que estavam dentro do objeto teriam sido levados por funcionários do Instituto Médico Legal (IML) sem autorização do órgão federal. O IML negou que teria feito isto.

A capital amazonense possui outro sítio-cemitério famoso, localizado no bairro Nova Cidade, na zona Norte. No entanto, o sítio foi soterrado em função das obras do conjunto, há mais de 10 anos. Somente uma área do local foi preservada, depois de pressão do Ministério Público Federal e do Iphan, que realizou a salvaguarda de alguns artefatos.