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Menino de 12 anos ajuda pai a publicar um artigo científico usando Dungeons & Dragons

 
Em 1998, o psicólogo Alan Kingstone demonstrou que as pessoas tendem a olhar para os olhos dos outros e, depois, para onde eles estão olhando – tendência que foi observada também em outros animais, como pássaros, macacos e golfinhos. Uma vez constatado o fenômeno, surgiu uma dúvida: por que isso ocorre?
 
Duas explicações plausíveis se contradizem: ou nós somos naturalmente levados a olhar para os olhos das pessoas; ou nós tendemos a focar no rosto das pessoas e, por causa da posição, nos olhos.
 
Durante um jantar em casa, Kingstone contou a seu filho, Julian (na época com 12 anos), como um colega havia dito que era impossível dissociar as duas explicações, já que os olhos das pessoas ficam no meio do rosto e não há como testar as hipóteses separadamente. O menino não concordou e, mais do que isso, ajudou seu pai a seguir adiante com a pesquisa, usando o Monster Manual (“Manual dos Monstros”).
 
Fantasia a serviço da ciência
 
O livro é um dos pilares da célebre série de RPGs Dungeons & Dragons, e contém informações sobre os mais diversos tipos de monstros que compõem o universo do jogo, desde dragões e lobisomens a demônios com vários olhos. Aí estava o segredo: sem se limitar à anatomia humana, Kingstone poderia ver como as pessoas reagiriam ao olhar criaturas cujos olhos não estariam necessariamente no meio da cabeça. O pesquisador adorou a ideia, e pediu à professora de Julian que liberasse o menino durante alguns períodos para ajudá-lo na pesquisa.
 
Eles reuniram 22 voluntários e pediram que olhassem para o canto de um monitor, apertassem um botão (que faria surgir a imagem de um monstro) e deixassem o olhar correr pela tela. Enquanto isso, o movimento dos olhos dos voluntários seria monitorado por uma câmera especial.
 
Resultado: quando viam monstros com formas similares às de um ser humano, seus olhos se moviam para o centro do monitor, e depois para cima; quando os monstros tinham olhos em lugares diferentes, os participantes olhavam para o centro e depois em várias direções. Eles procuravam os olhos logo, independentemente de onde estivessem.
 
De olho nos monstros
 
“Se as pessoas estão apenas mirando no centro da cabeça, da mesma forma que olham para o centro da maioria dos objetos, e veem os olhos por causa disso, é uma coisa. Mas, se eles estão procurando os olhos, é algo totalmente diferente”, diz Kingstone. Entender melhor esse fenômeno pode ajudar a explicar por que pessoas com autismo têm dificuldade em fazer contato visual, e quais partes do cérebro estão envolvidas no processo.
 
Quando soube da pesquisa, o designer Bruce Cordell, que faz parte da equipe responsável pelo Dungeons & Dragons, disse que os resultados “ressoavam com ele”. “Os visuais mais efetivos, falando como um designer de fantasia e alguém que gosta de um bom terror sobrenatural, ocorrem quando algo que não espero que esteja vivo abre os olhos. Quer sejam de tamanho regular ou grandes como um buraco de poço, sua abertura súbita provoca uma transformação perturbadora”, conta.
“No que diz respeito à arte e ao design de monstros, eu acredito que esses resultados claramente indicam que os monstros mais efetivos, ou pelo menos aqueles desenhados para mostrar propósitos e intenções, são aqueles com olhos discerníveis”.
 
O artigo foi publicado recentemente com o divertido título de “Monstros também são gente” e Julian (hoje com 14 anos) assinou como primeiro autor.
 
 
Fonte: Hypescience