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A violência dos seres humanos é uma herança dos nossos ancestrais?


Para compreender a natureza violenta do ser humano – da guerra ao assassinato – é só buscar a resposta em nossos ancestrais primatas. Essa é a conclusão de um novo e controverso estudo publicado na Nature, que vai até muitos anos atrás na nossa árvore genealógica para descobrir as raízes evolutivas da violência letal entre as mais de 1.000 espécies de mamíferos.

Os pesquisadores espanhóis reuniram dados relativos a mais de 4 milhões de mortes em 1.024 espécies de mamíferos atuais, assim como as mais de 600 populações humanas desde a Idade da Pedra, cerca de 50 mil-10 mil anos atrás, até hoje. As amostras representam cerca de 80% das famílias de mamíferos.


Descobriram que algumas espécies, como morcegos e baleias, quase nunca matam uns aos outros. Outros, como esquilos e musaranhos, já o fazem com relativa frequência. Os animais que vivem em grupos e defendem territórios, tais como lobos e chimpanzés, tendem a ser mais violentos. 

Tanto a violência quanto a não-violência tendem a aglutinar-se ao longo de certos ramos da árvore genealógica dos mamíferos. Estatisticamente, quanto mais violentos são seus parentes próximos, mais violenta a espécie está suscetível também a ser.
Essa associação significava que os pesquisadores poderiam usar sua extensa base de dados para prever a taxa de violência letal de uma determinada espécie e isso é o que eles fizeram para os seres humanos. 

Eles observaram que: quase 4,5% de mortes de chimpanzés são causados por outro chimpanzé, por exemplo, enquanto os bonobos são responsáveis por apenas 0,68% das mortes de membros de sua própria espécie. Com base nos índices de violência letal visto em nossos parentes próximos, foi possível prever que 2% das mortes humanas seriam causadas por outro ser humano.

Para ver se isso era verdade, os pesquisadores mergulharam na literatura científica documentando violência letal entre humanos, da pré-história aos dias de hoje. Eles combinaram dados de escavações arqueológicas, registros históricos, estatísticas nacionais recentes e etnografias com o número de seres humanos mortos por outros seres humanos em diferentes períodos de tempo e sociedades. 

A partir de 50.000 anos atrás, para 10.000 anos atrás, quando os seres humanos viviam em pequenos grupos de caçadores-coletores, a taxa de morte foi "estatisticamente indistinguível" em relação à taxa prevista de 2%, com base em evidências arqueológicas.

Mais tarde, quando grupos humanos se consolidaram em chefias e estados, as taxas de violência letal dispararam para mais de 12% na Eurásia medieval, por exemplo. Mas, na era contemporânea, quando os estados industrializados exerceram o Estado de direito, a violência foi menor do que a nossa herança evolutiva poderia prever, oscilando em torno de 1,3% ao combinar estatísticas de todo o mundo.

O estudo pode não dar uma resposta final para a evolução comportamental e tendência a violência do ser humano, mas ajudará a compreender melhor a influência genética, ambiental e cultural em busca de respostas e possíveis meios de conseguir diminuir esta ação repugnante de nosso meio.