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Pesquisadores encontram fóssil de tartaruga que viveu há mais de 125 milhões de anos

fóssil_tartaruga (Foto: Pedro Romano/ UFV)
Fóssil da tartaruga encontrada em Alagoas e descrita pelo professor Pedro Romano, da Universidade Federal de Viçosa

Em meio a toneladas de rocha, na Formação Morro do Chaves em Alagoas, pesquisadores descobriram o exemplar de tartaruga fóssil mais antigo do Brasil. A descrição taxonômica da tartaruga batizada de Atolchelys lepida foi feita por Pedro Romano, professor do Departamento de Biologia Animal da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais. Segundo ele, a tartaruga de água doce viveu há mais de 125 milhões de anos e media menos de 20 centímetros.
A descoberta aconteceu por acaso. Um grupo de paleontólogos do Museu Nacional e da Universidade Federal do Rio de Janeiro estava procurando por fósseis de peixes e fazendo a datação de rochas sedimentares quando encontrou o fóssil desconhecido.O fóssil único foi, então, encaminhado para o professor Pedro Romano.

Segundo ele, a descoberta do fóssil altera em pelo menos 12 milhões de anos a origem do grupo do qual essa tartaruga faz parte. Isso porque, o conhecimento da existência de uma nova espécie fóssil modifica toda a estrutura da árvore filogenética de um grupo de quelônios chamado Pleurodira. As tartarugas que pertencem a este grupo são chamadas, em inglês, de side-necked turtles porque retiram a cabeça do casco dobrando o pescoço para o lado. “A evolução desse grupo é mais complexa do que pensávamos. Se você tem um ancestral mais antigo muda tudo o que vem depois dele. Quanto mais antigo o grupo, mais complexa pode ser a avaliação das mudanças genéticas e morfológicas que as espécies descendentes sofreram durante a história evolutiva”, explica o professor.
O conhecimento contribui para avanços não só na paleontologia, mas também na área da genética. “Isso pode ajudar, inclusive, na explicação de relações de parentesco entre espécies", diz Romano. Foram três anos de pesquisas até a confirmação de que se tratava de uma espécie desconhecida. A identificação foi feita por meio da anatomia do animal fossilizado. “Como os animais vão gerando novas espécies na árvore evolutiva, cada detalhe é muito importante para a sua catalogação e, por sorte, o exemplar estava muito bem conservado entre as rochas milenares”.

Alguns dos parentes vivos mais próximos da Atolchelys lepida são a tartaruga gigante da Amazônia; o tracajá, também da Amazônia e a “Madagascar big-headed turtle”, que vive em Madagascar, na costa sudoeste da África.

tartaruga_gigante_Amazônia (Foto: Wikimedia Commons)
Tartaruga gigante da Amazônia

tracajá (Foto: Manoel Pimentel Medeiros/ Wikipedia)
Tracajá

Madagascar big-headed turtle  (Foto: Wikimedia Commons)
Madagascar big-headed turtle

Para Romano, a descoberta da existência da velha tartaruga suscita muitas conclusões. Elas viveram no tempo dos dinossauros não-avianos e formavam um grupo grande de tartarugas dispersas por todo o continente. Hoje o grupo é muito reduzido, se comparado ao registro fóssil, e algumas espécies podem desaparecer se não houver estratégias de conservação no Brasil e em outros países. “O que o registro fóssil deste grupo particular de tartarugas nos evidencia é que no passado existia uma diversidade muito maior. Portanto, se não tomarmos cuidado com as espécies que temos atualmente corremos o risco de perder parte da biodiversidade que restou.”

O artigo que trata da descrição da Atolchelys lepida foi publicado no periódico Biology letters, da Royal Society britânica e é assinado pelo professor Pedro Romano e por pesquisadores da UERJ e MNRJ que descobriram a velha nova tartaruga.

Fonte: Globo Rural